Se pretende saber mais sobre os contratos de manutenção do tipo "Power by the Hour", leia esta página.
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Os contratos-seguro assentam no costeio da manutenção com base num custo fixo por hora-voo. | Permitem grande previsibilidade dos custos de manutenção aos operadores. | Garantem uma importante fonte de receitas para os promotores deste tipo de contratos. |
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"Contratos-seguro"
parece ser a melhor designação para uma forma de contratos que a esmagadora
maioria dos fabricantes de produtos aeronáuticos (e alguns grandes reparadores)
oferecem aos seus clientes e operadores dos produtos por si fabricados (ou
intervencionados), cujo custo total é baseado no preço por hora voada pelo
produto aeronáutico objecto do contrato e fixado no início dum período,
raramente inferior a 5 anos.
Cada
entidade rotula este tipo de contratos com designações próprias (muitas delas
patenteadas) e apresenta algumas variantes e diversas opções, sobre um
contrato-tipo que se baseia num custo fixo de manutenção.
Do
ponto de vista do cliente (dos serviços de manutenção) o factor surpresa deve
ser minimizado o mais possível. Ter a possibilidade de conter os custos de
manutenção dos seus equipamentos entre valores que são perfeitamente
conhecidos e que assentam no total de horas voadas é o objectivo de qualquer
operador.
Tendo
por base este objectivo os fabricantes de motores aeronáuticos não tardaram em
oferecer tal tipo de contrato. A designação de marca mais conhecida de um
contrato deste tipo é o "Power by the Hour" e pertence à Rolls-Royce. Todas as outras designações correspondem a contratos semelhantes.
Segundo
este tipo de contratos, o operador paga XX contos por cada hora voada por uma
frota constituída por N motores. Este tipo de contrato estipula uma lista de
base cobrindo os seguintes custos: mão-de-obra, peças de substituição
obrigatória e sistemática (designados por descartáveis), material consumível,
modificações obrigatórias, relativas quer a trabalhos programados como
inopinados.
Como
opções (suplementares à cobertura-base) podem apresentar-se as seguintes:
todo o tipo de peças (embora para algumas o operador possa ter que pagar uma
percentagem que é directamente proporcional ao tempo de contrato já decorrido
(entre 0 e 100%, designada na linguagem anglo-saxónica pela expressão
"prorata"), modificações recomendadas, designação de um
representante técnico no local, instrução, motor de substituição em caso de
necessidade, acesso a
acessórios, módulos e componentes maiores, etc. (mediante o pagamento de um
suplemento constante, designado na linguagem anglo-saxónica por "flat
rate").
Consoante
as opções e perante uma lista de cobertura mais abrangente, o custo por
hora-voo será cada vez mais elevado.
Há
contratos-seguro em que a mão-de-obra relativa a trabalhos realizados pelo
operador (Manutenção de Linha ou Intermédia) é descontada da cobertura de
base, uma vez que aquelas horas não são realizadas pelo proponente do
contrato-seguro.
Por
razões óbvias, estão excluídas das coberturas aquelas anomalias resultantes
de deficiente manuseamento e negligência por parte do operador e os casos de
força maior, como por exemplo a ingestão inopinada de objectos contundentes
para os componentes internos dos motores.
Normalmente
a data de efectividade destes contratos apenas ocorre algumas horas-voo (em
alguns casos 100 horas-voo) após a assinatura dos acordos, podendo os preços
ser revistos até à efectiva entrada em vigor, numa evidente forma de protecção
dos fabricantes contra fraudes ou actos de má fé e para permitir um melhor
conhecimento do motor por parte do fabricante.
Do
ponto de vista do operador após ter inscrito os custos previsíveis da sua
manutenção (porque é ele quem determina as horas voadas anualmente) os custos
adicionais serão mínimos aconteça o que acontecer. Não há lugar a grandes
surpresas.
Do
ponto de vista do fabricante a situação é mais complicada pois poderão
ocorrer mais ou menos anomalias inopinadas (uma vez que as intervenções
programadas são conhecidas à partida e condicionam o custo acordado) e este
estará numa situação de ganho ou perda. Quanto maior fôr o número de opções
tomadas pelo operador, maior será o risco para o fabricante.
Os
fabricantes têm a vantagem decisiva sobre outrem uma vez que conhecem bem (em
termos estatísticos) o comportamento dos produtos que comercializam e detêm
suficiente informação que lhes permite estruturar e prever as despesas por
forma a negociar com o operador o custo da hora-voo. Os reparadores terão
sempre mais dificuldade em conhecer a estrutura e os valores previsíveis para
poderem formular um preço e proporem contratos deste tipo. A dificuldade para
os reparadores em proporem tais contratos é tanto maior quanto mais sensíveis
forem as opções subscritas (por exemplo a cobertura de peças, cujo preço é
controlado pelos fabricantes).
Assim,
para os operadores, um contrato deste tipo funciona como que um "seguro de
cobertura de danos próprios" aplicado aos custos de manutenção. Por esse
motivo avançámos com a designação de "contratos-seguro" para os
contratos do tipo "Power by the Hour".
Porém,
para além das vantagens evidentes que apresentam para os operadores e a
possibilidade de elevado risco para os fabricantes, decorrente duma análise
directa e simplista, após uma observação mais atenta é possível
identificarem-se outras intenções por parte dos proponentes de tais contratos
que encerram outro tipo de vantagens deveras compensadoras, sobretudo, para os
fabricantes.
Em
primeiro lugar a duração de tais contratos é imposta pelos fabricantes, através
duma longa duração, numa evidente tentativa de correcção de preços ao longo
dos anos do contrato (prevista na sua assinatura) e o estabelecimento duma longa
relação comercial por forma a estabilizar a carteira de encomendas dos
fabricantes.
Em
segundo lugar, este tipo de contratos permitem um escoamento contínuo de peças
de origem e novas, com quatro consequências imediatas cujas vantagens revertem
a favor dos fabricantes: geração de receitas por venda dessas peças; afectação
dos preços contratados do valor das peças novas incorporadas, através das
correcções previstas; a inclusão de peças novas pressupõe uma redução da
probabilidade de falha o que reduz a necessidade de intervenção do fabricante
e por último, evita a incorporação de peças da concorrência, majorando os
ganhos dos fabricantes e minorando os ganhos das empresas concorrentes (é
evidente que as cláusulas deste tipo de contratos inibem a utilização de peças
doutra fonte que não seja as do próprio fabricante).
Em
terceiro lugar, uma vez que a manutenção é suportada pelo fabricante é este
ou entidades controladas por si ou suas parceiras ou, ainda, por si
subcontratadas, que realizam as acções de manutenção. Desta feita, garantem
para si o mercado da manutenção, no prosseguimento duma estratégia
generalizada de uma presença crescente no mercado pós-venda, removendo do seu
caminho todas as entidades independentes que não detenham suficiente poder de
negociação ou financeiro para suportar os trabalhos de manutenção.
Em
conclusão, os "contratos-seguro" constituem uma brilhante combinação
de interesses e vantagens bilaterais, entre fabricantes e operadores, em que os
reparadores independentes saem nitidamente desfavorecidos.
A
redução de receitas de que os fabricantes vinham enfermando, em consequência
do aumento generalizado de produção, distribuição e venda de peças
sobressalentes, pela concorrência, e a maior fiabilidade com que os seus
motores foram sendo produzidos (por exigência explícita dos operadores) tem
vindo a anular-se e inverter-se, à custa deste tipo de contratos.
Assim,
os "contratos-seguro" garantem a incorporação de peças de origem;
garantem uma menor probabilidade de falha; garantem as receitas da manutenção
para os fabricantes; garantem maior previsibilidade dos custos de manutenção
para os operadores; garantem o prestígio das acções de manutenção ao serem
realizadas sob a égide dos fabricantes, e, finalmente, criam dificuldades aos
fabricantes de peças não originais e aos reparadores de motores aeronáuticos
independentes, numa evidente postura de expansão e luta pelo mesmo mercado, por
parte dos fabricantes.
Para os reparadores independentes os "contratos-seguro" são, actualmente, o seu pior inimigo. Para esses só subsiste uma forma de recuperação: as parcerias; as subcontratações, as fusões ou a participação no seu capital pelos fabricantes.
O
próximo passo no âmbito desta estratégia de disputa pelo mercado pós-venda,
por parte dos fabricantes originais, será o aluguer dos motores em vez da sua
venda. Através desta medida, que será complementada com outras medidas de
grande interesse para os operadores, os fabricantes permitir-se-ão deter o
controlo absoluto dos motores que fabricam, garantindo para si o mercado
pós-venda.