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A
manutenção de motores pode ser segmentada em diferentes níveis de actividade
de acordo com os níveis de manutenção previstos ou adoptados e a capacidade
da oferta.
Assim,
a actividade de manutenção de motores aeronáuticos divide-se em 6 segmentos
principais a seguir indicados:
A
Manutenção Profunda que se subdivide em:
A Manutenção de Linha exerce-se junto à aeronave pelo que pressupõe uma proximidade com infra-estruturas aeroportuárias, sejam elas em aeroportos ou em instalações onde as aeronaves se possam movimentar. Este segmento de actividade caracteriza-se pela remoção e instalação de componentes exteriores no motor ou da substituição do próprio motor. Ao nível deste segmento de intervenção o motor mantém-se intacto como um conjunto completo, pelo que o grau de complexidade destas intervenções é reduzido.
A Manutenção Intermédia exerce-se na proximidade de infra-estruturas aeroportuárias, sejam elas em aeroportos ou em instalações onde as aeronaves se possam movimentar e excepcionalmente noutros locais. Este segmento de actividade caracteriza-se para além da remoção e instalação de componentes exteriores no motor, pela separação de subconjuntos e módulos e respectiva substituição. Ao nível deste segmento de intervenção o motor tem que ser removido da aeronave e instalado em suportes adequados, fazendo intervir um conjunto apreciável de ferramentas e equipamentos especiais, pelo que o grau de complexidade destas intervenções é maior relativamente à Manutenção de Linha.
A Revisão de Motores exerce-se em qualquer local conquanto existam condições para tal. Este segmento de actividade caracteriza-se pela completa desmontagem do motor. Na sequência da desmontagem procede-se a inspecções de componentes isolados e de subpartes, podendo realizar-se ensaios parciais para o diagnóstico de algumas anomalias. Perante anomalias inaceitáveis procede-se à substituição dos componentes considerados não aceitáveis e daqueles que esgotaram o prazo de funcionamento, remontando-se o motor e procedendo-se ao ensaio final do mesmo. Este nível de intervenção faz intervir um conjunto apreciável de ferramentas, equipamentos especiais e suportes adequados, pelo que o grau de complexidade destas intervenções é bastante maior relativamente à Manutenção Intermédia, implicando a existência de um banco de ensaios, embora alguns dos ensaios se possam realizar com o motor instalado na aeronave.
A
Reparação de Componentes (tendo como pressuposto que estes se apresentam
isoladamente) ocorre invariavelmente na sequência das intervenções do tipo de
Manutenção de Linha, Manutenção Intermédia
ou da Revisão de Motores, especialmente da última, uma vez
que proporciona o acesso a um maior conjunto de componentes. Segundo este
segmento cada componente é processado como uma peça isolada e só a documentação
que o acompanha e as publicações técnicas que suportam a sua reconstrução o
relacionam com o(s) motor(es) em que está(va) instalado.
Este segmento de actividade é de grande exigência técnica e de recursos (pelos processos tecnológicos, meios de equipamento e investimentos que faz intervir) e aproxima-se bastante duma actividade de fabrico de componentes, servindo em muitos casos de transição duma actividade de manutenção para a de fabricação.
O Apoio Local é o tipo de actividade que algumas organizações exercem sempre que não possuam instalações e apenas disponibilizem mão-de-obra qualificada para a realização da Manutenção de Linha junto aos locais de estacionamento das aeronaves. Trata-se duma actividade pura de cedência de meios técnicos e humanos que muitas vezes se deslocam por requisição pontual e para diferentes localizações e outras se mantêm em posições predefinidas.
A
Engenharia de Reconstrução é o tipo de actividade que algumas organizações
exercem em apoio directo de outras. Este segmento da actividade caracteriza-se
pela concepção, desenvolvimento, experimentação e validação de resultados
de novas soluções de reparação e reconstrução de componentes isolados de
motores. Esta actividade, desenvolvida em gabinetes, é indissociável das
organizações que se dedicam à Reparação de Componentes e das
Autoridades
Aeronáuticas jurisdicionais.
As organizações dedicadas à manutenção de motores aeronáuticos podem desenvolver todos os segmentos atrás designados, em diferentes âmbitos e extensão, e outras apenas se dedicam a alguns ou apenas um daqueles segmentos.
A Capacidade de Oferta do Mercado
Duma
forma geral as organizações que realizam a manutenção de motores aeronáuticos
dividem-se em 2 grupos, relativamente à abrangência de capacidade, com se
indica de seguida:
As que realizam a manutenção às aeronaves e seus componentes, onde se incluem
os motores;
As que apenas realizam a manutenção de motores.
Quanto
à sua localização as organizações estão implantadas
Em zonas aeroportuárias (principais ou secundárias) e afins;
Noutras zonas.
Duma
forma geral todas as organizações pertencentes a operadores e transportadores
aéreos, localizam-se em zonas aeroportuárias ou afins e realizam a manutenção
das aeronaves e dos seus componentes, dividindo-se por estruturas funcionais próprias
para cada área de intervenção das aeronaves.
A
maioria das organizações independentes (não pertencentes a operadores ou
transportadores aeronáuticos) localizam-se, da mesma forma, em infra-estruturas
aeroportuárias ou afins e muitas delas oferecem uma capacidade quase completa
quanto às áreas de intervenção nas aeronaves.
A
maioria das entidades independentes que apenas se dedicam à manutenção de
motores aeronáuticos também se localizam em zonas aeroportuárias ou afins.
O
conjunto remanescente de organizações que se dedicam à manutenção de
motores (com menor expressão) localiza-se em áreas não contíguas a
infra-estruturas aeroportuárias ou afins.
Os
operadores aéreos de grande dimensão realizam a Manutenção de
Linha, a
Manutenção Intermédia, a Revisão de Motores e em alguns casos a
Reparação
de Componentes, ainda que parcialmente. Os restantes operadores aéreos apenas
realizam a Manutenção de Linha e Intermédia. Em qualquer das situações
exercem a sua actividade em zonas contíguas a infra-estruturas aeroportuárias
ou afins.
Assim,
duma forma geral a Manutenção de Linha e a Manutenção Intermédia são
realizadas por organizações sedeadas em zonas adjacentes a infra-estruturas
aeroportuárias e afins, por motivos que se ligam à maior proximidade com as
aeronaves.
A
Revisão de Motores divide-se por organizações localizadas em zonas aeroportuárias
ou afins e em zonas que nada têm a ver com o tráfego aéreo. Uma vez que os
motores estão removidos da aeronave a sua intervenção é independente da sua
proximidade com quaisquer meios aéreos, sendo, contudo, vantajosa a sua
localização em zonas de infra-estruturas aeroportuárias, principalmente, por
motivos logísticos.
A
Reparação de Componentes constitui a actividade em que as organizações
especializadas se situam em zonas mais afastadas das áreas de tráfego
aeroportuário, constituindo este exemplo o maior número de situações.
Por
outro lado o Apoio Local e a Engenharia de Reconstrução, quando não
realizados por uma das organizações atrás referidas, pode ser realizado a
partir de qualquer área.
A Caracterização dos Diferentes Níveis
A
Manutenção de Linha fax intervir um conjunto muito reduzido de ferramentas, na
sua maioria convencionais, e a exigência técnica dos mecânicos que a exercem
relaciona-se com o conhecimento dos sistemas das aeronaves e seus conjuntos.
A
Manutenção Intermédia requer um maior número de ferramentas e faz intervir
alguns dispositivos auxiliares específicos de cada motor, tais como suportes,
carros de transporte, suspensões ou equipamentos de teste para sistemas
hidráulicos, pneumáticos, eléctricos
e electrónicos.
A
Revisão de Motores, pela complexidade que envolve, implica o uso dum conjunto
muito vasto de ferramentas convencionais e específicas assim como de
dispositivos auxiliares próprios de cada tipo de motor. Uma vez que implica a
desmontagem completa daquele, requer o uso de dispositivos especiais de
manuseamento dos componentes individuais. Paralelamente, o uso de meios que
permitem a execução de ensaios não destrutivos, no decurso de tarefas de
avaliação e inspecção, requerem uma formação mais completa e profunda
relativamente aos outros tipos de manutenção.
A
Reparação de Componentes uma vez que manuseia componentes individuais, do
mesmo modelo de motor ou de modelos diferentes, implica um conjunto abrangente
de ferramentas próprias. Normalmente essas ferramentas especiais constituem
inter-faces de ligação dos componentes isolados às máquinas-ferramenta e
equipamentos de limpeza e ensaios não destrutivos onde são intervencionados.
Pelas características próprias da actividade de reparação de componentes
isolados, faz intervir um conjunto muito grande e diversificado de ferramentas
específicas.
Dada a grande complexidade associada à regeneração de dimensões, geometria, homogeneidade material, natureza dos tratamentos dos materiais e das superfícies, metalurgia e segurança das ligações entre diferentes componentes, etc., este tipo de actividade implica a utilização e o domínio de complexas técnicas e equipamentos, cuja tecnologia apela a elevados recursos financeiros e a mão-de-obra altamente especializada. Do ponto de vista económico é aquele que proporciona maior valor acrescentado, sobretudo se exercido em associação com a Engenharia de Reconstrução.
A Evolução da Reparação de Componentes face à Revisão de Motores
No contexto da actual elevada fiabilidade dos motores e dos novos conceitos de manutenção, a Manutenção Intermédia e a Revisão de Motores não deverão apresentar uma evolução significativa (quer quantitativamente, através do volume de trabalho, quer qualitativamente, através da exigência técnica do mesmo), sobretudo a última. No caso da Revisão de Motores é de esperar alguma retracção no volume de trabalho a realizar.
Enquanto a Manutenção de Linha (realizada na grande maioria pelos próprios operadores) deverá evoluír proporcionalmente à dimensão das frotas, devendo arrastar consigo alguma evolução na actividade de Apoio Local, essa evolução, no entanto, deverá ser mais significativa ao nível da actividade de Reparação de Componentes.
A escalada no preço dos componentes que se tem verificado nos últimos anos aliada às novas estratégias de comercialização dos motores por parte dos fabricantes originais, deverá fomentar o recurso alternativo a fontes paralelas de obtenção dos mesmos sobressalentes, com os mesmos níveis de qualidade, e à sua regeneração, numa tentativa de estender o mais possível a vida desses componentes, evitando a sua substituição por componentes novos e, assim, reduzir os custos de operação das frotas.
Esta dinâmica apela ao desenvolvimento crescente de mais técnicas de recuperação de componentes e à sua produção paralela. Porém, o expansionismo evidenciado pelos fabricantes de motores através da aquisição ou submissão ás suas áreas de influência, das entidades competentes na área de reparação de componentes, apresenta-se como condição inibidora de novas iniciativas.
Nestes termos, embora seja de esperar um incremento na actividade de Reparação de Componentes, esta, todavia, ocorrerá em torno de organizações possuidoras de elevada credibilidade que deverão (como já o fazem) dominar o mercado da regeneração de componentes e centradas nos fabricantes originais e em algumas empresas independentes.