OGMA - AS CONTRADIÇÕES DUMA DÉCADA
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CONTRA-INDICAÇÕES
A
distribuição da actividade da hipotética "holding" OGMA, através das suas sete
SBUs, com localizações situadas em Alverca, Portela (ou nova localização do
aeroporto internacional de Lisboa) e algures num eixo
Estrasburgo - Luxemburgo - Bruxelas, (com possibilidade de partilha de
instalações noutras localizações,
oriundas de eventuais fusões) acarretaria dificuldades
logísticas e organizacionais que seria necessário superar e manter operacionais.
Por outro lado, o actual arranjo organizacional da OGMA, essencialmente funcional, na medida em que a tomada de decisão, de nível intermédio, se reparte por funções e não por áreas de responsabilidade de produto, potencia a diluição e partilha de responsabilidades através de diferentes intervenientes.
Devido
à natureza específica dos
processos correntes, alguns encontram-se de tal forma fragmentados, que atravessando
horizontalmente diferentes intervenientes funcionais, contribuem, de alguma maneira, para o atraso em algumas decisões,
para a falta de sentido de oportunidade de
algumas delas e para a perda de
informação vital, entre outras.
Para
além desta situação, a organização funcional fomenta a ausência de
responsabilidade por produto, permitindo que actividades tão diversas entre si,
sejam geridas, comercial e
financeiramente, pelos mesmos intervenientes, potenciando a
dispersão de competências e a perda de
eficácia. As soluções que, a pretexto de economias de
escala, se têm defendido e mantido, acabam por influenciar negativamente alguns
aspectos da actividade e distorcer outros tantos objectivos da empresa. A ausência duma
responsabilidade por produto, por projecto ou programa, ainda que num contexto
matricial, que congregue e coordene autonomamente a tomada de certas
decisões, acentua
a menor eficiência de alguns processos.
A
OGMA iniciou em 1996, a alteração do seu sistema de informação. O novo
sistema que tem vindo a ser desenvolvido, assenta numa diferente
estruturação de avaliação de custos de produção por linhas de produto e células
administrativas intervenientes. O mercado não possui a justa resposta a este requisito,
pelo que uma grande parte desse sistema tem sido desenvolvido à medida das
exigências do utilizador, a fim de incorporar a experiência detida pela
empresa. Para além de onerar o trabalho
final, atrasar a sua entrega e aumentar a dependência da fonte de fornecimento,
o novo sistema poderá vir a encontrar
dificuldades de aplicação perante alterações profundas da organização que
são possíveis de antecipar e que venham, eventualmente, a suceder-se.
Independentemente das teses defendidas neste estudo, a estrutura e organização da OGMA deverão sofrer sérias alterações e a gestão da actividade terá que tendencialmente processar-se por produto (a identificação das SBUs atrás referidas segue uma possível diferenciação por linhas de produtos), podendo esses factos conflituar entre si.
Recentemente, teve início um processo de análise com vista a uma possível reestruturação, à semelhança de estudos anteriores, conduzidos, tal como agora, por entidades externas. Como resultado da implementação dessas conclusões ou ignorando-as, a tendência para manter a OGMA como uma entidade jurídica única, como sempre foi, em torno das suas várias valências, evitando, o mais possível e enquanto puder ser sustentável, alterar essa configuração, prevaleceu, podendo esse facto ser interpretado de diferentes formas, nomeadamente, como uma acção aparentemente deliberada de concentração de poder.
Há,
no entanto, um receio fundado, de carácter social, que sustenta a unidade em
torno dos
diferentes sectores, tal como se apresentam, e que reside no facto de existirem
áreas que apenas consomem recursos, sendo os seus resultados pouco
significativos para a globalidade dos resultados dos exercícios da OGMA. Numa
perspectiva empresarial, desde que não estejam em causa sectores estratégicos,
a teoria aconselha que as
actividades desenvolvidas por tais áreas, nas condições descritas, devam ser
subcontratadas, e por isso, eliminadas, daí resultando um excesso de mão-de-obra que se não puder ser
reconvertida para as áreas nucleares, poderá originar problemas sociais a que é necessário atender.
Uma
outra situação, igualmente condicionante, para a qual é aconselhável encontrar uma solução diferente da
actual, prende-se com a presença de técnicos militares, no activo, na OGMA. Sendo a OGMA uma empresa
de cariz industrial, e sem qualquer desprimor para os oficiais da FAP ali colocados no exercício de funções, a verdade é que, no contexto do seu estatuto e no âmbito
da actual missão da FAP, a continuidade da sua
presença na OGMA pode ser questionável.
Se
se entende e aceitou a sua presença durante o período posterior à transformação em
SA, a fim de garantir a continuidade das operações, com o menor número de
perturbações, também se entende que esse período de transição está
consumado e provavelmente consolidado.
A
presença de militares no activo, na OGMA,
apresenta algumas desvantagens para a OGMA, na medida em que a permanência daqueles é transitória e
subordinada a comissões de serviço, sem outros objectivos que não
sejam circunstanciais, de curto a médio prazo, algumas vezes sem atender às verdadeiras necessidades da empresa.
Duma forma geral, os militares
colocados na OGMA têm desempenhado funções de significativa importância, pelo que esses cargos,
futuramente, deveriam estar resguardados de substituições com alguma frequência (embora planeadas),
nem sempre oportunas. Em alternativa, a promoção de competências internas, existentes
ou emergentes, ou a identificação externa das mesmas, decerto que conduziria a
uma maior estabilidade e a um diferente empenhamento.
Esta
situação, para além de potencialmente
perturbar o normal funcionamento das áreas da empresa correlacionadas com esses
cargos, nas proximidades de mudanças,
condiciona, todavia, as
ambições e a perspectiva de carreira,
de longo prazo, a alguns profissionais civis do quadro da OGMA, com capacidade e
mérito para os mesmos desempenhos. Inevitavelmente que a situação, assim,
criada, é potencialmente perturbadora e eventualmente
geradora dum clima desmotivacional, em
níveis intermédios, incompatível com a postura que a OGMA deve assumir num contexto empresarial
internacional e de grande competitividade.
Outra
situação merecedora de especial atenção e que deverá ser minorada, prende-se com o montante de trabalho
extraordinário praticado, desde há muito tempo. Um pouco em virtude de fraquezas e ineficiências internas,
nomeadamente, dos salários praticados, duma baixa produtividade e de um
sistema de planeamento e controlo
da produção com importantes
limitações, a OGMA sempre se viu na contingência de concluir os trabalhos à
custa dum elevado montante de trabalho
extraordinário (algumas
vezes, também, devido a sobrecarga de encomendas).
Não
se podendo escamotear o facto de que parte desse
trabalho extraordinário poderia ser evitado através
de melhores actos de gestão e mais eficientes políticas e
métodos de controlo e
planeamento, também é um facto, que a actividade de MRO tem um carácter
bastante irregular e é feita de altos e baixos na procura, normalmente,
associados a crises económicas gerais ou no sector. Por isso, a opção de
realização de trabalho extraordinário, em detrimento de novas admissões,
sempre que a carga de trabalho o justifica, constitui um dilema que requer
soluções de compromisso muito ponderadas.
Actualmente,
quanto mais globalizante se torna a intervenção da OGMA, no contexto da MRO
internacional, mais vulnerável se torna a essas situações.
Com
várias e diferentes causas, alguma desmotivação perceptível a vários níveis,
desde executantes a quadros médios, contribui em grande escala para um clima de
passividade que é fácil identificar no seio da organização.
Apenas
pelo facto dos custos da mão-de-obra serem ainda relativamente baixos, é possível
suportar esta componente, tão significativa, de trabalho
extraordinário, no custo total. A
viabilização desta situação passa por uma melhoria, sem precedentes, na
produtividade e no absentismo observados.
Por
outro lado, se a formação é fundamental para potenciar um melhor desempenho, por
parte dos executantes, terão, todavia, que se encontrar outras formas de
rentabilizar as horas consumidas nessas acções. A criação de incentivos para
a realização dessas acções de formação em horário pós-laboral, é
fundamental.
Um
outro aspecto sensível e actual é o interesse que entidades internacionais,
fabricantes e reparadores, de outras nações, têm demonstrado pela OGMA. Este
interesse manifesta-se por diferentes áreas da OGMA, consoante a actividade
específica desenvolvida pelas entidades interessadas, sendo as áreas de MRO
de aeronaves e motores e de fabricação aeronáutica, porventura,
as mais visadas.
Este facto, sugere, de imediato, que na eventualidade de criação da "holding" OGMA (no contexto deste estudo) e das suas SBUs constituintes, tal como anteriormente foi identificado, verificar-se-ia, com um grande grau de probabilidade, um assédio, por parte de entidades estrangeiras, para a aquisição dessas unidades emergentes (no caso desse estatuto prever a privatização dessas SBUs) ou para o estabelecimento de parcerias sectoriais.
Entidades
com fortes ligações à OGMA, através de projectos de cooperação e negócio,
que se projectam no historial de ambas as partes (ou de concorrência), constituem potenciais
interessadas ou futuras parceiras. Outras, com aspirações mais recentes e
visando a possibilidade de encontrarem no espectro de capacidades da OGMA a
oportunidade de complementaridade das respectivas valências ou a simples
intenção de controlarem a oferta, perfilam-se, igualmente, para participarem
num eventual concurso. Não são, por isso, de excluir eventuais interesses de
empresas como a Rolls-Royce, Turbomeca, ITP e Techspace Aero, na área de
motores, e Lockheed, Eurocopter, CASA, Embraer, Marshall Industries, na área de
aeronaves, de entre outras que aguardam, discretamente, essa
oportunidade.
Em
virtude dum cenário extremamente competitivo, dum desequilíbrio entre procura
e oferta, da concepção de produtos altamente fiáveis e de reduzido nível de
intervenção para manutenção, dos elevados recursos financeiros inerentes à
actividade aeronáutica e à insistente presença dos fabricantes no mercado da
manutenção, os reparadores como a OGMA, dificilmente sobreviverão como
independentes. Porém, as associações (quaisquer que sejam os seus contornos)
tenderão para a aglomeração de unidades especializadas, a favor das grandes
multinacionais, consolidando actividades fulcrais, equivalentes ou
complementares.
Num mercado em que as receitas oriundas de qualquer actividade se reduzem, quando avaliadas isoladamente, a tendência será diversificar a oferta por forma a maximizar as receitas provenientes de diferentes actividades. A formação de conglomerados de empresas individuais, cujas actividades são similares e especializadas, têm caracterizado o amplo movimento de fusões e as ofertas de aquisição entre empresas. Para empresas estruturadas por diferentes especializações, como é o caso, é inevitável que a sua abertura ao mercado se proceda através de diferentes unidades, consoante as valências, tornadas independentes entre si, por uma lógica de centros de resultados. (continua)
Agosto 1999
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NOTA
Desde a realização deste estudo (Agosto 1999) até à data actual, ocorreram na OGMA, SA importantes alterações organizativas e estratégicas que, a par da modificação das circunstâncias condicionantes, terão conduzido a empresa a uma situação não necessariamente identificável com as premissas deste estudo. Esse facto, poderá justificar uma significativa divergência entre as conclusões do mesmo e as acções em curso para o sector.
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