OGMA - AS CONTRADIÇÕES DUMA DÉCADA
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CONCLUSÃO
Depois
de terem decorrido cerca de cinco anos após a transformação da OGMA, de EFFAs em SA,
esta pouco mudou, se analisada numa perspectiva estratégica e de planeamento de
médio e longo prazo. Todavia, catalizada pelo grande projecto que foi o seu
estabelecimento como centro reparador de motores de nova geração, para a
Rolls-Royce, o projecto de MRO para aeronaves ERJ-145 e ERJ-135, veio abrir novas
perspectivas de negócio, de penetração na comunidade de operadores regionais
e proporcionar um novo exercício de aprendizagem da dinâmica da aviação
comercial.
Contudo,
os obstáculos que se apresentam, quer os de natureza endógena como os exógenos,
são múltiplos, variados e penosos de vencer. As entidades tutelares parecem
tardar em encontrar soluções credíveis (ou indiciarem quaisquer acções
nesse sentido) e, enquanto o não fazem, estão a
adiar, uma vez mais, o futuro desta empresa. O erro cometido no passado,
relativamente à tardia transformação em SA, parece persistir e vir a repetir-se, no
que se refere, agora, na abertura do capital da OGMA à iniciativa privada.
Será,
sem dúvida, discutível se a OGMA deverá ser completamente privatizada ou
apenas parcialmente. Será, igualmente, questionável, se o Estado português
deverá manter o controlo na empresa, no pressuposto, do seu carácter estratégico
de defesa, ou deva prescindir dele. O que parece não constituir
dúvida é o
inevitável (quiçá irrecuperável) atraso das reestruturações e alterações
que se afigura justificarem-se, de entre elas, as soluções de financiamento.
Enquanto
se aguarda por uma tomada de posição por parte das tutelas, a OGMA vive em
"suspense", condicionada nas suas opções e assistindo às movimentações
do mercado da MRO internacional. Ao mesmo tempo, o seu
capital humano, ávido de perspectivas sólidas de futuro, assiste expectante e passivamente ao desenrolar
dos acontecimentos, e por cada dia que tarda sem surgir qualquer alteração, a motivação pessoal e colectiva
parece esmorecer e a desconfiança nos órgãos de decisão acentua-se, alimentando ainda mais, um clima de
relativa descrença
no futuro. Durante o tempo que durar este impasse, potenciar-se-ão demissões
indesejáveis ou sobrevirem iniciativas descontextualizadas.
Trata-se,
efectivamente, do adiamento do futuro da OGMA e da esperança nacional numa
participação auspiciosa, no contexto do cenário da MRO internacional. Neste
hiato entre tomadas de decisão, a formação de competências nacionais ficará
adiada. Se, por um lado, se fomentam as especializações universitárias em ciências
aeronáuticas e espaciais, por outro lado, nega-se a oportunidade do exercício
dessas competências, numa evidente desconcertação de políticas nacionais de
âmbito de internacionalização.
O
aparente deficit de sensibilidade e especialização na actividade de MRO,
por parte de alguns sectores dos órgãos decisores,
ao nível das tutelas e dos órgãos de gestão, que caracteriza e condiciona a OGMA,
poderá contribuir, em grande escala, para o panorama actual. Também
esta situação, fruto da escassez de competências nacionais neste sector, é
ela própria vítima da impreparação do país para esta actividade. A
necessidade de recurso a competências estrangeiras e o apoio e orientação de
entidades experientes, indica que a via de parcerias ou associações
internacionais parece ser inevitável e, porventura, salutar.
A
criação de riqueza no país e o emprego de mão-de-obra e inteligência
nacional, ainda que com o auxílio da iniciativa estrangeira, devem prevalecer
sobre quaisquer outras considerações. No contexto da globalização da
economia e das parcerias, sobretudo no âmbito da União Económica, é pouco
relevante se quem dirige ou detém os capitais de determinada organização, são
entidades locais ou não. O que se torna verdadeiramente importante é a
viabilização das iniciativas, a criação de riqueza e o desenvolvimento económico
das regiões e populações que a elas está associado, através da melhor
remuneração dos capitais investidos.
A
instituição duma verdadeira indústria aeronáutica portuguesa implica o
reconhecimento e aproveitamento das competências existentes, a identificação
das oportunidades no momento certo, a rápida tomada de decisões, a selecção
no mercado das opções mais adequadas e a captação dos capitais disponíveis
para a realização das iniciativas.
Assim,
o futuro da OGMA permanece adiado e envolto nas contradições
que caracterizaram a década que está a terminar. Entre a opção de se manter na dependência
dos trabalhos oriundos da FAP (ou dos
restantes ramos das FAs) e a alternativa de apostar em novos produtos, as
decisões conjunturais têm oscilado entre uma e outra, num aparente desacerto de rumo, gerindo uma
situação após outra. Embora, recentemente, os resultados
operacionais evidenciem uma melhoria, esta, todavia, não é sustentada,
exigindo, portanto, um realinhamento estratégico onde cada possível SBU exerça de forma
rentável e independente a sua actividade específica.
Agosto 1999
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NOTA
Desde a realização deste estudo (Agosto 1999) até à data actual, ocorreram na OGMA, SA importantes alterações organizativas e estratégicas que, a par da modificação das circunstâncias condicionantes, terão conduzido a empresa a uma situação não necessariamente identificável com as premissas deste estudo. Esse facto, poderá justificar uma significativa divergência entre as conclusões do mesmo e as acções em curso para o sector.
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