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O
FUTURO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE
MANUTENÇÃO DE MOTORES Com este artigo pretende-se realizar uma reflexão
sobre a situação actual do sector de manutenção de motores aeronáuticos,
no âmbito das actividades da indústria aeronáutica nacional. Partindo da situação actual, perante alterações
significativas que se perfilam e integrando alguns pressupostos de
reconhecida verosimelhança, pretende-se reflectir sobre o rumo que a indústria
nacional de manutenção de motores aeronáuticos poderá tomar,
relativamente às hipóteses colocadas pela actual dinâmica do mercado. A primeira parte deste trabalho intitulada “EVOLUÇÃO
DA INDÚSTRIA NACIONAL DE MANUTENÇÃO DE MOTORES
AERONÁUTICOS” aborda a temática das condicionantes e
envolventes actuais perante a necessidade de se identificar(em) a(s)
parceria(s) adequada(s) para a nossa indústria. A segunda parte intitulada “REESTRUTURAÇÃO
DA INDÚSTRIA EUROPEIA DE FABRICANTES DE MOTORES AERONÁUTICOS”
aborda a forma através da qual a nossa indústria se poderá envolver com
as restantes congéneres europeias, por forma a participar em projectos
internacionais. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA NACIONAL DE MANUTENÇÃO
DE MOTORES AERONÁUTICOS A evolução a médio e longo prazo da indústria
nacional de manutenção de motores aeronáuticos deverá ser
decisivamente influenciada pelos seguintes factores: ·
A continuada fraca expressão da
actividade aeronáutica civil em Portugal; ·
Os rumos de internacionalização da empresa OGMA, SA; ·
A privatização da TAP e as consequências
na sua estrutura de manutenção; ·
A mudança do aeroporto internacional
de Lisboa da Portela para a OTA; ·
As opções de aquisição de novos meios aéreos
para as Forças Armadas Portuguesas. Os factores atrás mencionados determinarão, com
impactes diferenciados, qualitativa e progressivamente o desenvolvimento
de novas capacidades de manutenção de motores aeronáuticos assim como o
volume de trabalho realizado. Partindo da actual situação estabeleceu-se um cenário hipotético, todavia tangível, influenciado pelos factores indicados e pressupondo alguns factos históricos, cuja probabilidade de vir a ocorrer se crê ser elevada. Vejamos a hipotética influência de cada um
daqueles factores. A continuada fraca
expressão da actividade aeronáutica civil em Portugal A actividade aeronáutica civil em Portugal
reparte-se pelos sectores de apoio logístico, de onde se destaca a
actividade de manutenção, e as operações aéreas. As operações aéreas
englobam o transporte comercial regular e não regular de passageiros, o
transporte de carga aérea, o transporte privado de passageiros, o táxi aéreo,
a instrução de pilotagem, o transporte de emergência e de salvamento, a
utilização no combate a incêndios, a utilização no apoio à
agricultura e a particular de recreio. De entre os vários sectores que desenvolvem as
operações aéreas, o sector do transporte aéreo regular de passageiros
representa a maior fatia do mercado. Os sectores de transporte de carga aérea e o táxi
aéreo não têm qualquer expressão no panorama nacional nem se
vislumbra que venham a desenvolver-se de forma significativa. No entanto,
a possibilidade de instalação em Beja de um aeroporto misto militar e
civil, com vista à sua utilização para passageiros mas sobretudo para a
movimentação de carga, poderá resultar num acréscimo de algumas
aeronaves. O sector do transporte não regular de passageiros
tem mostrado alguma evolução sendo expectável que possa desenvolver-se
gradualmente mas limitado pelas restantes circunstâncias, no pressuposto
de se afirmar pontualmente como solução alternativa ao transporte
regular de passageiros, sobretudo em rotas que tenham sido abandonadas por
estes e, ainda assim, com um carácter sazonal. É, assim, possível
alguma evolução positiva neste sector ainda que diminuta. Os sectores do transporte privado de passageiros, a
instrução de pilotagem, o transporte de emergência e de salvamento, a
utilização no combate a incêndios, a utilização no apoio à
agricultura e a particular de recreio, poderão evidenciar uma evolução
positiva mercê quer da criação da Escola de Pilotagem de Évora quer da
expansão das frotas de utilização partilhada (“Fractional
Business”) poderem em conjunto incrementar a frota de aeronaves
existente no país. Assim, as necessidades de manutenção mais
significativas serão oriundas do sector de transporte aéreo regular. Dado o contexto extremamente competitivo neste
sector, as reduzidas dimensões do território nacional, os preços de
outros meios de transporte alternativos e o baixo poder de compra dos
portugueses, não se vislumbra um crescimento interno apreciável deste
sector. Dever-se-á assistir a uma redistribuição de quotas de mercado
entre os actuais operadores mais significativos, que no cômputo geral
deverão manter as necessidades de manutenção ao nível actual,
salvaguardando os aspectos específicos derivados da utilização de
aeronaves tecnologicamente mais evoluídas. Ainda assim, o espectro de desenvolvimento duma rede de comboios de alta velocidade poderá limitar a franca expansão das frotas regionais. A evolução deste sector estará intimamente ligada a um outro factor, adiante descrito e que se relaciona com a futura privatização da TAP. Voltar
a ...continuada fraca expressão da actividade aeronáutica civil em
Portugal Os rumos de internacionalização
da empresa OGMA, SA A OGMA construiu a sua actual capacidade de manutenção
de motores aeronáuticos em resposta às necessidades de manutenção das
aeronaves militares operadas pela Força Aérea Portuguesa (FAP). O
desenvolvimento destas competências aliado às transformações políticas
ocorridas durante a década de setenta originou uma capacidade excedentária
o que conjugado com circunstâncias conjunturais permitiu o seu racional
aproveitamento como oferta a outros operadores militares e a sua extensão
a outros países, sobretudo africanos. Com o envelhecimento dos modelos de motores para os
quais a OGMA se apetrechou com capacidade de manutenção, a procura
ir-se-á reduzindo proporcionalmente à cadência de retirada de serviço
desses modelos. A capacidade de manutenção de motores aeronáuticos da
OGMA está, assim, a desactualizar-se ao ritmo da descontinuação das
frotas de aeronaves na FAP derivado dessa relação de dependência. A recente introdução de capacidade de manutenção
de dois novos modelos de motores fabricados pela Rolls-Royce, através da
atribuição à OGMA do estatuto oficial de reparador autorizado, criou
alguma expectativa e constitui uma esperança de futuro mormente as
vicissitudes impostas pelo mercado moderno, sobretudo, pela nova atitude
do fabricante perante o mercado pós-venda. Estes motores representam dois
modelos diferentes que assentam num núcleo central semelhante e
constituem a família de turbopropulsores AE2100 e a família de turbofans
AE3007. As actuais circunstâncias do mercado conduziram a
que o fabricante das aeronaves Saab 2000, equipadas com os motores AE2100
(versão A), descontinuassem a sua produção, tendo-se vendido apenas 60
aeronaves a que corresponde um universo de cerca de 120 motores, para dar
resposta às necessidades de manutenção e que na sua esmagadora maioria
operam na Europa (apenas 3 aeronaves operam nos EUA). A aeronave militar de transporte táctico Lockheed
C-130J também é equipada com motores AE2100 (versão D3) e na Europa
apenas foram vendidas, até à data de 55 aeronaves (25 para a Força Aérea
inglesa, 22 para a Força Aérea italiana, 4 para a Força Aérea austríaca
e 4 para a Força Aérea dinamarquesa) a que corresponderão cerca de 240
motores (pressupondo um adicional de 10% de motores de reserva). A acrescentar a este universo de motores, também a
aeronave fabricada pelo consórcio Lockheed-Alenia e designada C-27J, está
equipada com motores AE2100 (versão D2). O número de vendas desta
aeronave militar de transporte é ainda muito incerto, sendo conhecidas
apenas algumas encomendas por parte das Forças Aéreas italiana e grega a
que corresponde um reduzido número de motores não superior a cerca de
50. Assim, a família de turbopropulsores AE2100 (versões
A, D3 e D2) constituirá um universo potencial de manutenção de cerca de
120 motores civis e 290 militares após a efectivação das unidades
encomendadas. Se atendermos à diferente taxa de exploração das
respectivas aeronaves é fácil concluir que os 120 motores civis
(caracterizados por um perfil de 1.02 hora-voo/ciclo, 1,860
horas-voo/ano/aeronave a que equivalem 218,824 ciclos/ano ou 223,200
hora-voo/ano) provocarão uma procura de manutenção muito mais intensa
que os 290 motores militares (caracterizados por um perfil de 2.00
hora-voo/ciclo, 500 hora-voo/ano/aeronave a que equivalem 72,500
ciclos/ano ou 145,000 hora-voo/ano). Por outro lado a família de motores AE3007 equipa
as aeronaves Embraer modelos ERJ-135, ERJ-140 e ERJ–145. Estas aeronaves
têm batido todos os records de vendas sendo que cerca de 25% das
vendas são para operadores europeus a que corresponderão cerca de 250
aeronaves a que, por sua vez, corresponderão cerca de 500 motores. Estes
500 motores operados a um ritmo de exploração de 1.36 hora-voo/ciclo,
2,336 horas-voo/ano/aeronave equivalem a 858,424 ciclos/ano ou 1,168,000
hora-voo/ano. Se cada motor turbofan se mantiver cerca de
7,000 hora-voo, em média, antes de ser removido da aeronave para inspecção
ou substituição de componentes com limite de vida, esta análise
permite-nos antever cerca de 166 remoções por ano na Europa. Para os
turbopropulsores e admitindo que cada motor se mantém cerca de 5,000
horas-voo entre remoções, pode-se antever cerca de 73 remoções por
ano, igualmente na Europa. Refira-se que no continente americano se
estimam o triplo das remoções previstas para a Europa para os turbofans. Tendo em conta estas estimativas e a existência de
2 centros reparadores especializados nestes tipos de motores na Europa e 3
no continente americano, assumindo uma perspectiva optimista (partilha
equitativa do mercado), pode esperar-se que cada um dos centros europeus
aspire a pelo menos 83 motores AE3007 e 37 motores AE2100, num total de
120 motores por ano, numa média de 10 motores por mês (7 motores do tipo
AE3007 e 3 do tipo AE2100). A estes números poderão adicionar-se as remoções
não programadas (normalmente quantificadas em cerca de 30%) e ainda
alguns motores oriundos do continente americano dado que a estimativa de
390 remoções (apenas AE3007) repartidas por 3 centros reparadores
existentes, poderão exceder a oferta de manutenção naquela área e em
situações pontuais procurarem os serviços europeus, caso as condições
sejam bastante favoráveis. Estes dados permitem antecipar um apreciável
mercado potencial de manutenção apesar da filosofia de manutenção
destes motores ser do tipo “on condition”, serem de elevada
fiabilidade e completamente modulares, o que, em princípio, reduz a
incorporação de mão-de-obra e a substituição de componentes. A introdução da capacidade de manutenção nestes
motores na OGMA foi, sem dúvida, face às perspectivas do mercado, uma opção
estratégica adequada e oportuna e que marcou o ponto de viragem duma
carteira de clientes essencialmente militares diversificando para clientes
civis. Essa aposta terá implicado, no entanto, um enorme esforço
financeiro cuja rentabilidade se espera obter no decurso da vida útil dos
motores. Porém, o mercado alterou-se e os fabricantes
entraram em competição directa com os reparadores, encontrando-se estes
em concorrência directa e exclusiva no teatro europeu com as empresas de
manutenção da Rolls-Royce pela obtenção de trabalho naqueles motores.
Se a competição com um fabricante de enorme prestígio mundial se
vislumbra difícil, para agravar a situação este reagiu com a oferta de contratos-seguro
do tipo “Power by the Hour”, (baseados num custo fixo por
hora-voo) extremamente competitivos e difíceis de bater por iniciativas
semelhantes por parte dos reparadores independentes. Nestas circunstâncias de mercado e com o concurso
duma dinâmica aparentemente aquém das necessidades (mercê de um cenário
de baixa produtividade), a indústria nacional de manutenção de motores
aeronáuticos, através da OGMA, parece encontrar-se numa situação
fragilizada no que concerne a esta família de motores. O seu estatuto de
reparador independente face à dinâmica dos fabricantes, diminui a sua
habilidade para o cabal aproveitamento das capacidades detidas face à
hegemonia que o fabricante poderá representar, podendo inferir-se que uma
parceria se afigura oportuna e incontornável. Conforme foi atrás referido, as restantes
capacidades de manutenção de motores aeronáuticos detidas pela OGMA
para outros motores, face à proximidade de retirada de serviço dos
mesmos, são cada vez mais irrelevantes para a sustentação duma
actividade de manutenção aeronáutica nesta área. Embora presentemente
alguns desses motores representem ainda necessidades de manutenção não
desprezáveis, a utilização dos mesmos está cada vez mais confinada a
operadores militares cujas frotas se encontram em rápida retracção, não
podendo ser consideradas soluções de futuro. Mantém-se, assim, actual a
necessidade de identificar alternativas para preencher a capacidade de
produção existente. A possibilidade de introdução de novas
capacidades, no actual contexto do mercado da manutenção de motores
aeronáuticos, numa perspectiva estritamente comercial, apesar de difícil
em virtude dos elevados recursos financeiros que implica, passa por três
vectores: ·
Novas capacidades associadas
à introdução de novas frotas em Portugal (militares ou civis); ·
Novas capacidades
decorrentes do estabelecimento de acordos com terceiros para a manutenção
de novos motores, independentemente das frotas existentes em Portugal;
·
Novas capacidades por aquisição
de “know-how” já existente para a manutenção de motores em fase de
retirada mas que o número de unidades em utilização ainda o justifique.
A possibilidade de
introdução de novas frotas, em Portugal, não parece potenciar a instalação
de novas capacidades uma vez que a expansão das actuais frotas civis não
parece provável assim como a aquisição de novas frotas se fará sempre
através de um reduzido número de unidades, tendo em vista a substituição
de frotas mais antigas, ainda assim, não suficientes para viabilizarem um
projecto de investimento específico, tal como foi referido em relação
ao factor anterior. Por um raciocínio análogo e pelo que se discutirá
adiante, não se prevê que quaisquer frotas militares venham a constituir
massa crítica que justifique um projecto de investimento na
manutenção dos motores com que virão equipadas, com a envergadura que a
actividade lucrativa da manutenção exige e apenas do ponto de vista
comercial. Em qualquer dos casos anteriores, um hipotético projecto só teria significado num quadro de internacionalização, onde a exportação justificasse o investimento e permitisse cobrir os “direitos” e “royalties” eventualmente impostos pelos respectivos fabricantes na sequência das respectivas autorizações. Voltar
a ... novas frotas em Portugal ... A introdução de
novas capacidades decorrentes do estabelecimento de acordos com terceiros
para a manutenção de novos motores, parece ser uma possibilidade remota
já que para os novos motores os fabricantes dificilmente permitirão a
intervenção de entidades estranhas. A probabilidade de sucesso
relativamente a este tipo de iniciativas está directamente ligada ao
estabelecimento de parcerias, “joint-ventures”, acordos ou até
a formas de participação no capital destas empresas. Esta dinâmica
deverá forçar a internacionalização da área de motores da OGMA, através
da sua disponibilidade a parcerias ou, eventualmente, à sua abertura a
outros capitais, se continuar a subsistir, entretanto, a intenção de
viabilizar a capacidade instalada e as competências entretanto
estabelecidas. Por outro lado, uma vez que o investimento para a
instalação de capacidade de intervenção em novos motores se
multiplicou por 2 ou por 3, relativamente ao mesmo investimento requerido
para iniciativas semelhantes para os motores das gerações anteriores,
uma vez que incorporam tecnologias sofisticadas, será extremamente difícil
conseguir a introdução de novas capacidades com a actual conjuntura de
capitais existente. Por estes motivos parece-nos difícil assistirmos à introdução de novas capacidades para novos motores sem alterações estruturais e estatutárias que visem uma nova postura e uma efectiva internacionalização desta empresa, fora do âmbito de qualquer tipo de parceria. Voltar
a ... novas capacidades ... A introdução de novas
capacidades pela via de aquisição de “know-how” já existente
para a manutenção de motores em fase de retirada mas que o número de
unidades em utilização ainda o justifique, poderá representar uma
esperança ainda que esta constitua apenas a imagem duma estratégia de
sobrevivência. A possibilidade de desenvolvimento de “nichos”
de mercado constituídos à volta de produtos em declínio apenas pode
prolongar por mais algum tempo a incerteza de futuro, pois, por si só, não
representa qualquer solução duradoura, se analisado do ponto de vista do
exercício da manutenção de linha ou intermédia. A identificação de tais “nichos”
parece óbvia. No entanto, dado o carácter global deste mercado e o facto
de se verificar um excesso de oferta dos serviços de manutenção perante
a retracção na procura dos mesmos, motiva uma forte concorrência neste
segmento, privilegiando aqueles reparadores que já detêm essas
capacidades e se debatem com problemas similares e aqueles cuja dinâmica
e facilidade de readaptação os favorece. Contudo, do ponto de vista da actividade de
recuperação de componentes isolados, muitas tecnologias das décadas
anteriores continuam a aplicar-se com resultados favoráveis. Nesta
perspectiva e apenas para esta actividade específica, a possibilidade de
desenvolvimento de “nichos” de mercado constituídos à volta de
produtos em declínio pode constituir uma solução de transição para
outros projectos de interesse, todavia, será necessário assegurar que
apenas se trata de um estádio de transição e não de uma solução
definitiva. No entanto, para além de potenciar limitações na evolução tecnológica esta opção incorpora dois graves riscos. O primeiro risco pode sobrevir se a coberto de volumes de vendas apreciáveis no curto prazo a hipótese de estagnação nesse estádio puder comprometer futuramente a razão de ser do negócio. O segundo risco está associado à inevitável saturação do mercado, pois a identificação dos referidos “nichos” será extensiva a um conjunto apreciável de outras entidades congéneres e uma vez que se trata de motores em fim de vida, as respectivas quantidades decrescerão rapidamente intensificando a competição e, desta forma, conduzir apenas à sobrevivência dos mais fortes e melhor preparados. Voltar a ... aquisição de "know-how" ... Voltar
a ... rumos de internacionalização da empresa OGMA ... A privatização da TAP e as
consequências na sua estrutura de manutenção A outra componente da indústria portuguesa de
manutenção de motores aeronáuticos está englobada na TAP e é a sua
estrutura de manutenção e engenharia. À semelhança do que se tem passado com as suas
congéneres europeias, a TAP necessita de uma reestruturação por forma a
viabilizar a sua actividade fora das ajudas e protecção do Estado
português. Assim, a sua privatização constitui um facto incontornável,
tal como aconteceu com as restantes transportadoras europeias, aguardando
apenas pela melhor oportunidade. Todas essas organizações passaram por um ciclo de
reestruturação que implicou a fragmentação da empresa original em
empresas menores e especializadas em segmentos da actividade aeronáutica.
Assim, as operações aéreas (a que corresponde o transporte de
passageiros e carga), a manutenção e o “handling”, constituem
três segmentos imediatamente identificáveis e apresentam-se como fortes
candidatos a constituírem empresas especializadas em cada uma daquelas
actividades específicas. A separação por especificidades justifica-se
por motivos de especialização da actividade onde a contenção de
recursos assim como de custos de estrutura constituem o principal alvo
dessa racionalização. Nesta perspectiva, a área de manutenção e
engenharia da TAP (que doravante referiremos por TAPME, por razões de
simplificação de linguagem) apresentar-se-á ao mercado, após a cisão
da TAP “original”, em condições técnicas formalmente semelhantes às
que a OGMA apresenta actualmente. Genericamente, o que se disse
relativamente à OGMA aplica-se de igual forma à TAPME. Contudo, a TAPME
apresenta uma vantagem sobre a OGMA que lhe advém do facto de manusear
produtos aeronáuticos de largo espectro de aplicação na aviação
comercial e, por isso, estar perante um maior leque de potenciais
clientes. Como já foi anteriormente referido, a actividade
aeronáutica em Portugal é reduzida, não sendo capaz de corresponder à
oferta dos serviços de manutenção existente. A existência de duas
entidades congéneres, com capacidades muito semelhantes e com uma oferta
quase complementar e independentes entre si, pode potenciar uma competição
“fratricida”, obviamente indesejável para a indústria nacional. Por
outro lado, a existência de uma ignorando a outra, representa para o país
um desperdício de recursos através da sua duplicação desnecessária
(situação mais grave enquanto ambas se mantiverem na dependência
exclusiva de capitais públicos). Só por si, estes factos não são impeditivos do
exercício de actividades paralelas e concorrentes, na assunção de que o
mercado disponível pudesse preencher a oferta da capacidade existente. No
entanto, a localização periférica do país em relação à Europa, as
reduzidas dimensões das frotas existentes em Portugal, o excesso de
oferta de manutenção perante um déficit de procura que tende a
especializar-se por tipo de frota e a existência dessas empresas fora de
qualquer parceria, “joint-venture” ou associação de natureza
internacional, constituem factores determinantes para que ambas possam
congregar as sinergias que detêm, oferecendo ao mercado uma capacidade
ampliada pelas características respectivas. Assim, parece inevitável e simultaneamente favorável
que a OGMA e a TAPME se aproximem, racionalizem recursos, potenciem
sinergias e se apresentem ao mercado como uma só entidade. A fusão
daquelas duas entidades, assim sugerida, representa uma aspiração antiga
e recorrente defendida por alguns sectores nacionais ligados à aeronáutica.
Esta fusão, várias vezes ventilada no passado, nunca beneficiou,
todavia, de condições propícias como as que se perfilam no horizonte
próximo e que se resumem a dois acontecimentos incontornáveis: a
privatização e reestruturação da TAP e a consequente mudança de
instalações da TAPME em virtude da transferência do aeroporto
internacional de Lisboa da Portela para a OTA. Recentemente a TAP e a OGMA, SA estabeleceram um acordo de cooperação que visa, de entre outras formas de relacionamento, a realização de inspecções à frota de Airbus em Alverca, com carácter de exclusividade. Trata-se, efectivamente, do início da aproximação entre aquelas duas entidades que, julgamos, poder vir a culminar, algum dia, na fusão dos dois centros de reparação. Voltar
a ... privatização da TAP e as suas consequências ... A mudança do
aeroporto internacional de Lisboa da Portela para a Ota A prevista transferência do aeroporto
internacional de Lisboa, da Portela para a Ota, obrigará à transferência
simultânea de todos os serviços ali existentes, onde se incluem as
instalações de manutenção da TAPME. Independentemente de quaisquer outras considerações
e movimentações que se perfilem no horizonte das decisões para este
sector, a saída das infra-estruturas de manutenção da TAPME da Portela,
implica a sua mudança para outro local que não tem que ser
necessariamente as instalações do novo aeroporto na Ota. Porém, uma
condição essencial, de entre outras, para a relocalização dessas
infra-estruturas é o novo local ser servido por uma pista e por
infra-estruturas aeroportuárias que permitam a cabal movimentação das
aeronaves da TAP e outras. As infra-estruturas aeroportuárias existentes em
Alverca que servem a OGMA e que são propriedade da Força Aérea
Portuguesa, estando agregadas ao Depósito Geral de Material da Força Aérea,
cumprem todas as condições para a movimentação de quaisquer aeronaves.
Para além dessa vantagem, a actual existência de toda uma
infra-estrutura de manutenção ali instalada, poderia poupar enormes
investimentos na Ota e introduzir economias de escala, perante a
relocalização da infra-estrutura de manutenção da TAPME em Alverca. Se outras razões não existissem, as atrás
expostas seriam suficientes para a concretização da fusão entre aquelas
duas entidades. É óbvio que teria que existir uma pequena
infra-estrutura de manutenção de linha e intermédia no novo aeroporto
para apoiar as operações diárias ininterruptamente. Em Alverca poderia
ser instalada a manutenção profunda. Desta forma, resultaria uma indústria aeronáutica de manutenção quiçá mais forte e, seguramente, de oferta mais diversificada. Uma vez mais, as vantagens técnicas decorrentes da autonomização das áreas de manutenção de motores daquelas entidades (paralelamente aos restantes sectores) serão imprescindíveis de modo a viabilizar e facilitar as parcerias e associações internacionais que eventualmente ocorrerão no sector. Voltar
a ... mudança do aeroporto internacional de Lisboa ... As opções de aquisição
de novos meios aéreos para as Forças Armadas Portuguesas A aquisição de novos meios aéreos através dos
programas de reequipamento das Forças Armadas portuguesas, constituem,
algumas vezes, a motivação e a justificação para a implementação de
capacidades novas e acrescidas, normalmente, associadas aos meios
adquiridos. O Estado português, na qualidade de comprador de
equipamentos e utilizador das verbas nacionais (através das Leis de
Programação Militar - LPM), procura proteger a economia nacional, quando
destas aquisições, através da imposição de medidas que obrigam a que
as entidades fornecedoras compensem economicamente o país na mesma proporção
do volume das vendas. Este mecanismo é designado por atribuição de
contrapartidas devidas por aquisições. Ao abrigo destes programas de contrapartidas, os
fornecedores ou outras entidades associadas, comprometem-se, a facilitar e
promover a transferência de tecnologia e de conhecimentos necessária,
normalmente através do fornecimento dos conhecimentos e das licenças
para que o país comprador possa participar no desenvolvimento e no
fabrico dos produtos que está a adquirir ou possa vir a realizar
projectos de modernização ou a sua manutenção. Eventualmente, o
programa de contrapartidas pode envolver outros produtos que não os
envolvidos directamente no programa de aquisições ou até relacionados
com outros sectores que nada têm a ver com a aeronáutica. A metodologia de quantificação das
contrapartidas, na sua vertente financeira, assenta no pressuposto de que
as capacidades instituídas, por esta via, potenciarão uma economia de
despesas no exterior (relacionadas com o apoio logístico das frotas em
operação) ou um volume de receitas decorrente dos negócios
subsequentes, ao longo do ciclo de vida útil dos bens adquiridos,
equivalente ao valor das aquisições. Na actividade aeronáutica este
ciclo nunca é inferior a um período de 25 a 30 anos, tratando-se de
aeronaves, ao qual estão, todavia, associadas múltiplas incertezas. Por outro lado, compete aos países compradores
realizarem, de uma forma geral, a quase totalidade dos investimentos
necessários para a instalação das capacidades pretendidas por si ou
propostas pelos países fornecedores e aceites pelos primeiros. As
contrapartidas resumem-se às receitas potenciais provenientes das
actividades desenvolvidas com base nas capacidades instaladas a partir
desse momento. Tratando-se de decisões relativas a investimentos iniciais
vultuosos e associadas a múltiplas incertezas, estes factos configuram
projectos de elevado risco relativamente à sua viabilidade económica. Através deste mecanismo, as indústrias dos países
sub-desenvolvidos ou carenciados de determinados conhecimentos e
iniciativas, incorporam novas capacidades e competências, permitindo-lhes
encaixar um volume de vendas igual ou superior ao das aquisições
efectuadas pelo respectivo Estado. É óbvio que as receitas provenientes
das contrapartidas se diluem ao longo de vários anos e algumas vezes
poderão não chegar a compensar as despesas realizadas nas respectivas
aquisições, quer por incumprimento dos programas e contratos de
contrapartidas estabelecidos quer por alterações dos mercados. É neste contexto que a aquisição de novos meios
aéreos para as Forças Armadas portuguesas pode induzir novas
capacidades, nomeadamente no âmbito da manutenção de motores aeronáuticos,
entre outros. No caso de anuência, por parte dos fabricantes
originais, em permitir a realização de acções de manutenção ou de
modernização nos motores por si fabricados, o âmbito do exercício
dessa capacidade depende do volume das aquisições. Naturalmente que a um
maior volume de aquisições corresponderá um maior poder negocial e
reivindicativo por parte da nação compradora, procurando obter melhores
condições para a indústria desse país. Genericamente, a componente associada aos motores aeronáuticos, do
programa global de contrapartidas decorrentes da aquisição de aeronaves
militares, pode incluir os seguintes aspectos: ·
Participação
na concepção e desenvolvimento de novos projectos ou de modernização
de outros motores produzidos pelo fornecedor contratado ou nos modelos
objecto da aquisição; ·
Participação
no fabrico de componentes, de subconjuntos ou na montagem dos
motores que estão a ser adquiridos, ou num lote mais extenso, ou noutros
modelos diferentes; ·
Participação
na manutenção ou na modernização dos motores ou seus
subprodutos, que estão a ser adquiridos ou de outros motores produzidos
pelo fornecedor contratado, num âmbito que pode ser: §
Restrito apenas
ao número de motores adquiridos; §
Restrito aos
motores adquiridos e aos modelos iguais utilizados por outros operadores
situados numa determinada área geográfica; §
Sem qualquer
tipo de restrições, podendo intervir em qualquer motor daquele tipo,
desde que comercialmente se estabeleçam as condições favoráveis para a
concretização dum negócio economicamente viável. Assim,
dependendo do volume do negócio relativo às aquisições em causa, o
mesmo é dizer, dependendo do número de aeronaves a ser adquirido, assim,
o poder negocial que pode ser exercido poderá obter maiores ou menores
vantagens. Perante
a perspectiva bastante provável de aquisição de um reduzido número de
aeronaves, diferentes entre si, por parte do conjunto dos três ramos das
Forças Armadas portuguesas, e perante o elevado risco que estes projectos
envolvem, é óbvio que as vantagens que poderão resultar da instalação
de capacidade de intervenção num reduzido lote de motores poderão ser
pouco significativas, sobretudo se o âmbito dessa intervenção estiver
abrangida por fortes restrições e limitar-se apenas aos modelos
adquiridos, como indicado anteriormente. Apesar de tecnologicamente o país poder ficar enriquecido, por haver lugar a alguma transferência de tecnologia (nem sempre evidente) e conhecimentos, a sua viabilidade económica, numa perspectiva de geração de receitas, pode ser duvidosa ou até não compensadora. Voltar
a ... opções de novos meios aéreos para as Forças Armadas Portuguesas
... Pelo
atrás exposto pode concluir-se que: ·
O reduzido número
de motores provenientes das frotas de aeronaves existentes em Portugal,
quer civis quer militares, pela dimensão e variedade dessas frotas, só
por si, não justificam quaisquer projectos de investimento em instalação
de capacidade para o seu manuseamento, salvo algumas excepções e numa óptica
de consumo interno; ·
Pelos
constrangimentos impostos pelas dimensões do país, pelo seu
posicionamento geográfico e pela sua realidade sócio-económica, não é
previsível um aumento sustentado dos meios aéreos a operar em Portugal,
pelo que o número de motores disponíveis não constituirá, em princípio,
a necessária massa crítica para projectos de investimento com
essa finalidade; ·
A existência
em Portugal de duas entidades dedicadas à actividade de manutenção de
motores aeronáuticos, ainda que através de ofertas complementares,
constitui um desperdício de sinergias assim como contraria os benefícios
decorrentes de políticas de economias de escala; ·
A relativa
proximidade duma reestruturação e privatização da TAP e a previsível
relocalização do novo aeroporto internacional de Lisboa, deverão
motivar decisões de fundo e estruturantes para a actividade de manutenção
de motores aeronáuticos, nomeadamente a sua concentração física numa
entidade única e autónoma; ·
A existência
em Portugal de uma entidade dedicada à manutenção de motores aeronáuticos
só se justifica num quadro de internacionalização, de âmbito
comercial, tirando partido da globalidade dos motores existentes em todas
as frotas internacionais e das capacidades já instaladas no país; ·
Dado que a tendência
das mais recentes movimentações internacionais de âmbito aeronáutico,
nomeadamente no sector da manutenção de motores, indica a formação de
conglomerados de empresas, através de várias formas de associação
(parcerias, “joint-ventures”, consórcios, fusões, etc.), a
entidade nacional sobrevivente à onda de mudanças não deverá ficar
imune à participação nesse movimento, identificando e seleccionando
claramente o(s) parceiro(s) com vista à sua adesão a esse(s)
conglomerado(s); ·
A identificação
do(s) conglomerado(s) a que a entidade portuguesa deverá eventualmente
aderir, passa pela análise da realidade europeia, pelos movimentos
emergentes e pela análise dos projectos em curso e futuros, definindo-se,
claramente, se através duma abordagem institucional (enquanto entidade de
capitais exclusivamente públicos) se através duma abordagem de mercado
(no pressuposto da privatização integral dessa entidade) ou de uma forma
mista entre ambas, até porque a manutenção de motores não se constitui
por si só como uma actividade estratégica para o país; ·
Assumindo como
pressuposto que a infra-estrutura de manutenção de motores existente na
Portela terá que abandonar aquela localização, a perspectiva para a sua
relocalização, sobretudo para a componente de manutenção profunda,
deve assentar no princípio do custo mínimo. Este princípio poderia
viabilizar, assim, um cenário que apontasse para a sua reinstalação em
Alverca nas actuais instalações da OGMA, rentabilizando naquela unidade
parte do investimento que de outra forma seria realizado na OTA. Relativamente
às parcerias, enumeram-se alguns tópicos de reflexão, que pela sua
importância, oportunidade e coerência, poderão ajudar a identificar e a
seleccionar o(s) parceiro(s) adequado(s) para a indústria nacional de
manutenção de motores aeronáuticos no actual contexto e como primeira
aproximação. Assim, deve-se ter em consideração os seguintes tópicos:
·
Existe um vasto
leque de potenciais oportunidades de trabalho em motores de fabrico
Rolls-Royce, nomeadamente, T56, 501D, AE2100 e AE3007, sobretudo estes últimos
(apesar de operarem em Portugal, para além destes, outros motores deste
fabricante, designadamente motores Tay e GEM 42); ·
O facto de
cerca de 90% das frotas mundiais equipadas com motores AE3007 virem a
operar ao abrigo de contratos-seguro do tipo "Power
by the Hour" (o que significa que a manutenção é da
responsabilidade da Rolls-Royce, enquanto fabricante e proponente dos
contratos mais vantajosos) está já a originar uma drástica perda de
encomendas para os reparadores independentes, daquele tipo de motores,
entre os quais se situa a OGMA, facto este realçado pelos objectivos
recentemente divulgados pela própria Rolls-Royce; ·
Existe uma
movimentação no sentido de associação dos fabricantes europeus de
motores aeronáuticos, para diversos fins, nomeadamente, no âmbito de
projectos aeronáuticos europeus, de que a indústria portuguesa não
deverá alhear-se; ·
Que, na Península
Ibérica, para além dos representantes da indústria nacional neste
sector, existe em Espanha uma entidade integrada nesse movimento
associativo europeu - a ITP (Indústria de Turbopropulsores) - que se
dedica à manutenção e concepção de partes de motores, que integra na
sua estrutura de capitais uma participação de cerca de 48% por parte da
Rolls-Royce, realçando-se o facto de ter sido noticiado através do site
oficial do Ministério da Defesa espanhol, o eventual interesse desta
firma espanhola em adquirir a área de motores da OGMA; ·
Que a
componente de motores da TAPME vem adicionar à oferta acima descrita a
capacidade de manutenção nos motores RB211-524B4, igualmente de fabrico
Rolls-Royce, que embora sendo de uma geração anterior, encaixa-se num
dos "nichos" do mercado de motores em desactivação mas
que pode representar um volume de vendas não desprezável; ·
A actual
capacidade de intervenção em motores Artouste e Turmo, de fabrico
Turbomeca e em motores Larzac, de fabrico SNECMA/Turbomeca, detida pela
OGMA, não será suficientemente atractiva, quer pela quantidade de
motores expectáveis quer por se tratar de motores em fase decrescente das
suas vidas úteis, para viabilizar qualquer solução com futuro (apesar
da relação de longa data existente entre a Turbomeca e a OGMA); ·
A indústria
nacional tem mantido um relativo afastamento da General Electric, da Pratt
& Whitney e da SNECMA, por falta ou por fraca expressão do volume de
manutenção realizado em motores com origem naqueles fabricantes, apenas
representado pela capacidade de intervenção detida pela TAPME nos
motores CFM56-3, CFM56-5B, JT8D e JT9D; ·
A procura de
manutenção de motores T56 e TPE331, por parte da Força Aérea
Portuguesa, tenderá a desaparecer num prazo máximo de 10 a 15 anos, uma
vez que as frotas motorizadas por aquelas famílias de motores (C-130
Hercules/P3-P Orion e C-212 Aviocar, respectivamente), por se aproximarem
do final do seu ciclo de vida útil, poderão ser substituídas por outras
aeronaves, eventualmente, em número inferior, desincentivando, ainda
mais, a possibilidade de instalação e criação de novas capacidades
correlacionadas (apenas é previsível a operação para além daquele período
das aeronaves P3-P Orion no pressuposto de viabilização do projecto que
visa a modernização e extensão de vida daquelas aeronaves nacionais); ·
A necessidade
de manutenção dos motores F100-PW-220 operados pela Força Aérea
Portuguesa e que equipam as aeronaves F-16 pode ser suprida por fontes
externas, ainda que europeias, com uma larga capacidade instalada e
reconhecida competência; ·
A capacidade
remanescente detida para outros motores, não mencionados, não justifica
qualquer parceria com os respectivos fabricantes, pelo que, neste âmbito,
não é considerada. Tendo
por base os tópicos atrás referidos e a menos de outras considerações
de carácter não divulgado, uma eventual parceria com um conglomerado
liderado pela Rolls-Royce, através duma ligação directa ou indirecta
àquele
fabricante, afigura-se ser vantajosa e simultaneamente aquela que
garantiria a continuidade dos investimentos e capacidades já instituídas. Como
comentário final não pode deixar de se referir a intenção do Governo
Português, já expressa através do Ministério da Defesa, em aderir ao
projecto europeu de fabrico e aquisição dos helicópteros NH90. Estes
helicópteros possuem duas versões de motorização, sendo uma delas da
responsabilidade do consórcio RTM (formado entre a Rolls-Royce e a
Turbomeca), através de 2 motores da família RTM322 por unidade. Estes
helicópteros destinam-se a equipar o Exército Português num total que
poderá atingir 10 unidades, equivalentes a 22 motores (considerando 2
motores de reserva). A confirmar-se esta intenção, existe a perspectiva
de que o mesmo tipo de helicópteros poderia vir a substituir os actuais
Lynx que equipam as fragatas da Marinha Portuguesa, num total de 5
aeronaves, perfazendo 10 motores. A
recente aquisição dos novos helicópteros EH101, cuja missão primária
é a busca e salvamento na área de compromissos nacionais, equipados com
3 motores da família RTM 322, que no conjunto das 12 unidades adquiridas,
perfaz 38 motores (considerando 2 motores de reserva), constitui um apreciável
universo de motores cuja necessidade de manutenção terá que obter
resposta por parte da indústria. Tendo
por pressuposto uma utilização anual média de 300 horas-voo por helicóptero
e um tempo médio entre remoções de motores de 3,000 horas-voo,
poder-se-á estimar em cerca de 7 remoções por ano, o que é
manifestamente insuficiente para justificar a instalação de capacidade
para atender apenas às necessidades nacionais (ainda que se possa
adicionar uma margem nunca superior a 30% correspondente a remoções não
previstas). A
confirmar-se este cenário, teríamos dentro de alguns anos um universo
nacional de cerca de 70 motores da família RTM322, que poderiam constituir
massa crítica para a implementação de capacidade de manutenção
profunda neste tipo de motores, não só para satisfazer as necessidades
nacionais mas sobretudo para poder exportar essa capacidade para os países
utilizadores. Outra
variável a ter em consideração, prende-se com a eventual aquisição
para a Força Aérea Portuguesa de 3 aeronaves de transporte A400M,
equipadas com 4 motores. A confirmar-se que a motorização desta aeronave
será da responsabilidade de um consórcio europeu liderado pela
Rolls-Royce, e tendo por base os pressupostos de uma utilização anual média
de 650 horas-voo por aeronave e um intervalo entre remoções de motores
para manutenção de 5,000 horas-voo, para um universo de 196 aeronaves e
uma margem de 15% de motores de reserva (um total de 900 motores) prevê-se
um número de 117 remoções anuais na Europa. Assumindo a existência de
2 centros de reparação com esta capacidade e uma distribuição
equitativa, cada um poderá esperar uma procura média correspondente a
cerca de 58 motores por ano (4 a 5 motores por mês). Esta conclusão
sugere que a indústria nacional possa concorrer a esta capacidade no
contexto de uma parceria e, também ela, associada à Rolls-Royce. Todavia,
caso não se confirme a aquisição das aeronaves A400M e, em alternativa,
se enverede por outra solução, como por exemplo pela aquisição das
aeronaves C-130J, mantém-se válida a anterior conclusão, reforçando o
valor da capacidade nacional já instalada, uma vez que estas aeronaves
também são equipadas com motores Rolls-Royce do tipo AE2100, conforme já
anteriormente referido. Os pressupostos deste cenário, a verificar-se, só viriam reforçar a conclusão já obtida de que no âmbito da manutenção de motores aeronáuticos, e numa perspectiva meramente técnica, uma parceria estratégica internacional com a Rolls-Royce se afigura bastante adequada, não podendo ser ignorada. Contudo, a iniciativa nacional, a oportunidade, as circunstâncias, o entendimento da Rolls-Royce e os interesses comerciais de terceiros serão determinantes para a consecução deste objectivo, uma vez que não se trata de uma decisão unilateral. Ir para 2ª parte intitulada “REESTRUTURAÇÃO
DA INDÚSTRIA EUROPEIA DE FABRICANTES DE MOTORES AERONÁUTICOS” |